Você Se Lembra de Quando Era Feliz e Não Sabia: Uma História Real

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A Felicidade Estava Ali o Tempo Todo: Como Um Enfermeiro Redescobriu o Verdadeiro Sentido da Vida

Introdução

O cheiro de café fresco invade meu pequeno apartamento em Copacabana enquanto observo o nascer do sol pela janela. As ondas quebram suavemente na praia, trazendo aquela brisa salgada tão característica do Rio. Aos 49 anos, finalmente entendo o que minha avó queria dizer quando falava sobre “ser feliz e não saber”. Por duas décadas, dediquei minha vida aos cuidados de pacientes em home care, correndo de casa em casa, acumulando plantões extras, sempre em busca de algo que, hoje percebo, já estava comigo o tempo todo. O barulho da cidade começando seu dia me faz sorrir, enquanto relembro a jornada que me trouxe até aqui – uma história sobre descobrir que às vezes precisamos perder tudo para encontrar o que realmente importa.

A História

Em 2019, minha vida parecia perfeitamente estruturada. Tinha uma carreira estável como enfermeiro domiciliar, um casamento de 15 anos, um apartamento financiado e uma rotina que, embora cansativa, me dava segurança. Acordava às 5h, visitava em média oito pacientes por dia, voltava exausto para casa por volta das 22h, apenas para recomeçar tudo no dia seguinte. O cheiro de álcool em gel impregnado em minhas mãos se misturava ao aroma do jantar requentado, enquanto eu tentava manter os olhos abertos para ver um pouco de televisão com minha esposa. Os fins de semana eram preenchidos com plantões extras – afinal, sempre havia uma conta a mais para pagar, um sonho material para realizar. O som da campainha do despertador era meu companheiro mais fiel, e o peso da responsabilidade por vidas alheias, meu fardo diário. Eu estava tão ocupado sobrevivendo que havia esquecido de viver.

O Momento de Virada

Então veio a pandemia. Em março de 2020, perdi três pacientes em uma semana para a Covid-19. O som dos respiradores, os olhares de desespero das famílias e o sentimento de impotência me consumiam. No mesmo mês, meu casamento chegou ao fim – a distância emocional que eu não percebia havia se tornado um abismo intransponível. Sentado sozinho no sofá do meu apartamento agora vazio, o silêncio ensurdecedor foi interrompido pelo toque do celular: era Dona Antônia, uma paciente de 92 anos, perguntando não sobre seus medicamentos, mas se eu estava bem. Foi naquele momento, com lágrimas escorrendo pelo rosto, que comecei a enxergar o que estava bem diante dos meus olhos: a verdadeira felicidade não estava nos plantões extras ou nas conquistas materiais, mas nos pequenos gestos de carinho, nas histórias compartilhadas com meus pacientes, no privilégio de fazer diferença na vida das pessoas.

Reflexão Final

Hoje, três anos depois, mantenho uma rotina mais equilibrada. Reduzi o número de pacientes, passei a praticar meditação e voltei a tocar violão – algo que havia abandonado há 20 anos. O som das cordas se mistura ao barulho do mar, criando uma melodia que embala minhas manhãs. Aprendi a saborear o café sem pressa, a ouvir verdadeiramente as histórias dos meus pacientes, a perceber a beleza nos pequenos momentos. A felicidade estava ali o tempo todo, escondida nos sorrisos de gratidão, no aperto de mão confiante de um paciente em recuperação, no simples ato de poder fazer a diferença na vida de alguém. Como dizia minha avó, eu era feliz e não sabia – mas agora sei, e faço questão de viver cada momento com plena consciência dessa felicidade.

Pergunta ao Leitor

E você, já parou para pensar nos momentos de felicidade que talvez esteja deixando passar? Quantas vezes deixamos a vida escorrer entre os dedos, correndo atrás de objetivos que, no final, não são tão importantes assim? Talvez a verdadeira felicidade esteja justamente onde você menos espera, nos pequenos gestos, nas pausas entre um compromisso e outro, no sorriso de alguém que você ajudou. Não espere perder tudo para descobrir o que realmente importa.

*Roberto Santos Nascimento é enfermeiro domiciliar há 22 anos em Copacabana, Rio de Janeiro. Formado pela UFRJ, especializou-se em cuidados paliativos e atualmente divide seu tempo entre o atendimento a pacientes e palestras motivacionais para profissionais da saúde. Sua história inspirou centenas de pessoas a repensarem suas prioridades de vida.*